sexta-feira, fevereiro 18, 2011

é claro que não tenho, já, a certeza, mas penso que esta terá sido a minha primeira citação...
já devem ter passado 20 anos, and this same old feeling, keeps on going


From childhood’s hour I have not been

As others were - I have not seen

As others saw - I could not bring

My passions from a common spring.

From the same source I have not taken

My sorrow; I could not awaken

My heart to joy at the same tone;

And all I loved, I loved alone.

Then - in my childhood, in the dawn

Of a most stormy life - was drawn

From every depht of good and ill

The mystery which binds me still:

From the torrent, or the fountain,

From the red cliff of the mountain,

From the thunder and the storm,

And the cloud that took the form

(when the rest of Heaven was blue)

Of a demon in my view.

Edgar Allan Poe

A Borbulha


Fumar faz mal. Pois faz. Isso creio que é óbvio. Somos todos conscientes dessa realidade pelo menos ao nível da razão. O problema está em que irracionalmente o cigarro é amigo do fumador. Aquele fumo que exalamos desde as nossas bocas, que sobe pelas nossas caras nublando-nos os olhos e nos envolve como uma máscara permitindo-nos aquele momento de intimidade introspectiva que tanto buscamos. É como se vivessemos numa borbulha dentro da qual pouco a pouco vai faltando o ar. Se antigamente podiamos disfrutar dessa borbulha por ignorância, hoje não temos essa desculpa. Mas porque é que terei que me desculpar? Se optei por viver aqui dentro, foi porque o Mundo lá fora ficou muito feio. Quero ignorar...não me rebentem a borbulha, arranjem maneira do ar entrar, mas só o ar. Se fosse uma criança feliz seguramente não fumaria.

O limite do Tempo


E mais um dia de trabalho...é incrivél a quantidade de horas que dedicamos a trabalhar. Por trabalhar entenda-se a vender a alma aos outros, entenda-se, deixar de viver os teus sonhos e dedicar o tempo a viver o sonho de outros.
E o meu sonho??? Onde está?? Que é feito dele? Não sei, não tenho tempo para o viver. Há tanto tempo que não conecto com o meu sonho que já nem me lembro bem de como era. Tenho uma vaga ideia, mas a cada dia que passa, mais se distorsiona. Provavelmente não fui feito para viver o meu sonho. Sonho muito alto e não tenho asas para voar. Nunca terei a sensação de poder contrariar a gravidade. Para quê continuar a tentar. É por isso que sou um sonhador, gosto demais de voar. Não falo de aviões, nem de balões, falo de abrir os braços e de repente sentir como um manto de ar me envolve e me eleva do chão. Falo de visitar as nuvens, de cheirar o arco-iris, de cruzar o limite da atmosfera e tratar a escuridão do Universo de tu a tu. Fui feito para sonhar...e cada dia que passa...sonho menos.
Raios partam a inexorabilidade temporal.

Emigrante


É verdade, sinto-me um emigrante. Não é sempre, tenho dias, mas um destes dei por mim a ouvir fados, música pimba, romântica, o que fosse contando que fosse em português mas refiro-me para ser mais preciso, exactamente aquela que apontava sempre como a " música do emigrante ", a música pimba. De repente já não me soava tão mal o Quim Barreiros ou o Emanuel. Não, não fui convertido ao pimba mas do ponto de vista de um emigrante com a minha idade ( 35 ) digamos que reconforta lembrar as origens, o que se ouvia na minha infância e adolescência nesse Portugal sempre tão castiço. É verdade, às vezes sinto-me vazio, da família, dos grandes amigos, de Lisboa e desse Mar. Custa muito viver no interior quando se cresceu ao lado do Mar, suponho que a falta deste não nos deixa viver a nossa fantasia de marinheiros. Aquela onde sonhamos ser Vascos da Gama encontrando-se com todo o tipo de culturas e cenários sempre diversos através de um Mar sempre desafiante que nos vai enchendo o ego a cada nova vaga. Seremos sempre poetas. Sonhamos com sermos pelo menos tão épicos como quanto Ulisses. Enfim, que é ser Portugués? Não sei, mas tenho saudade de o ser.
Não me interpretem mal, sou feliz de momento, como toda a felicidade. Estou bem onde estou. Tinha um sonho e vim atrás dele. Não é fácil, é outro país, outra cultura, outras gentes com outros pensares. Esforço por adaptar-me e sinto recompensa desse esforço mas também sinto que nunca me integrarei totalmente. É simplesmente impossível. Serei sempre um português de Lisboa, um Alfacinha. Essa é a minha identidade e tenho necessidade de a preservar.
A vida é uma constante dinastia de decisões, daquelas que determinam o nosso rumo. Até as mais simples decisões afectam sempre o nosso navegar. Eu agora sou emigrante por decisão própria e não estou arrependido mas como bom português que me considero necessito da melancólica Saudade.
Quem sabe o que estará fazendo o meu outro Eu no Universo Paralelo que se abriu quando decidi emigrar.
Pois, não faço a mais pequena ideia mas não posso esconder uma certa curiosidade do tipo da que te leva a novas paragens, a novos universos. No fundo estou a sonhar uma vez mais, a escrever com a imaginação mais um capitúlo do meu Lusiádas.
Cada vez mais tenho que viajar mais longe no tempo para o passado para manter esse meu esqueleto de Portugues e escrever estas linhas é como ter uma nave espEcial que acorta as distâncias. É também uma forma de me soltar das amarras da saudade e poder viver mais relaxado com o que me rodeia, poder integrar-me melhor na sociedade que me acolhe actualmente. Sinto-me como numa missão, numa cruzada para finalizar melhor possivél a viagem que iniciei.
Obrigado a todos, aos que me apoiaram e aos que não, porque todos fizeram parte do processo de decisão.
E um especial obrigado a todos os que me ajudam actualmente a chorar esta saudade que sinto, com a atitude, não sempre tão simples ou fácil, de manterem-se em contacto.