sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Emigrante


É verdade, sinto-me um emigrante. Não é sempre, tenho dias, mas um destes dei por mim a ouvir fados, música pimba, romântica, o que fosse contando que fosse em português mas refiro-me para ser mais preciso, exactamente aquela que apontava sempre como a " música do emigrante ", a música pimba. De repente já não me soava tão mal o Quim Barreiros ou o Emanuel. Não, não fui convertido ao pimba mas do ponto de vista de um emigrante com a minha idade ( 35 ) digamos que reconforta lembrar as origens, o que se ouvia na minha infância e adolescência nesse Portugal sempre tão castiço. É verdade, às vezes sinto-me vazio, da família, dos grandes amigos, de Lisboa e desse Mar. Custa muito viver no interior quando se cresceu ao lado do Mar, suponho que a falta deste não nos deixa viver a nossa fantasia de marinheiros. Aquela onde sonhamos ser Vascos da Gama encontrando-se com todo o tipo de culturas e cenários sempre diversos através de um Mar sempre desafiante que nos vai enchendo o ego a cada nova vaga. Seremos sempre poetas. Sonhamos com sermos pelo menos tão épicos como quanto Ulisses. Enfim, que é ser Portugués? Não sei, mas tenho saudade de o ser.
Não me interpretem mal, sou feliz de momento, como toda a felicidade. Estou bem onde estou. Tinha um sonho e vim atrás dele. Não é fácil, é outro país, outra cultura, outras gentes com outros pensares. Esforço por adaptar-me e sinto recompensa desse esforço mas também sinto que nunca me integrarei totalmente. É simplesmente impossível. Serei sempre um português de Lisboa, um Alfacinha. Essa é a minha identidade e tenho necessidade de a preservar.
A vida é uma constante dinastia de decisões, daquelas que determinam o nosso rumo. Até as mais simples decisões afectam sempre o nosso navegar. Eu agora sou emigrante por decisão própria e não estou arrependido mas como bom português que me considero necessito da melancólica Saudade.
Quem sabe o que estará fazendo o meu outro Eu no Universo Paralelo que se abriu quando decidi emigrar.
Pois, não faço a mais pequena ideia mas não posso esconder uma certa curiosidade do tipo da que te leva a novas paragens, a novos universos. No fundo estou a sonhar uma vez mais, a escrever com a imaginação mais um capitúlo do meu Lusiádas.
Cada vez mais tenho que viajar mais longe no tempo para o passado para manter esse meu esqueleto de Portugues e escrever estas linhas é como ter uma nave espEcial que acorta as distâncias. É também uma forma de me soltar das amarras da saudade e poder viver mais relaxado com o que me rodeia, poder integrar-me melhor na sociedade que me acolhe actualmente. Sinto-me como numa missão, numa cruzada para finalizar melhor possivél a viagem que iniciei.
Obrigado a todos, aos que me apoiaram e aos que não, porque todos fizeram parte do processo de decisão.
E um especial obrigado a todos os que me ajudam actualmente a chorar esta saudade que sinto, com a atitude, não sempre tão simples ou fácil, de manterem-se em contacto.

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